terça-feira, 27 de julho de 2010

Registro

"Mas lembrava-se que aos 12 começou a se fazer perguntas que todo mundo se faz um dia. E começou a enxergar a vida ao redor. Porque até então nunca tinha visto nada além de mais ou menos uns 2m depois da bolha chamada infância.
Tudo pareceu tão ofensivo, tão opressor, e as palavras pareciam ter um efeito incrível sobre si. Sempre pro mal. Não gostou do que viu. Odiou. Cada dia mais. E chorou. Cada dia mais. E perguntava-se "por que?". Não fazia sentido. A vida não fazia sentido, ela não fazia sentido. O mundo todo era pintado de preto e cinza. Lascado, velho. E cada pequena dor, cada pequeno trauma, decepção da idade, parecia maior, mais intenso, acumulado. Os por ques se acumulavam.
A idade aumentava e o cinza também. Dava pra ver explícitamente, nos olhos, nas mãos, no jeito de andar, na voz. Tudo era um caos. Um silêncio angustiante que nunca acabava e se prolongava e se arrastava, piorava, sufocava...aos poucos. Constantemente, ritmadamente. Com pequenos picos.
Até a dormência lhe invadir. Ah, perigosa dormência. Consciência vil que lhe dizia não existir mais saída ou remédio. O mundo não ouvia, não enxergava, que fazer? Agora é questão de viver. Sobreviver. Mas não fazia sentido. Nada fazia sentido. Ela não fazia sentido. Então inventou uma mentira. Uma tão bem contada que lhe parecia verdade. E foi a sua verdade. Até o fim. Ah, triste fim.
E depois? Depois veio a dor. A dor de verdade, não aquela dorzinha fina na superfície que lhe aliviava a visão. Não. Foi aquela outra dor. Aquela que destrói tudo que vê pela frente, de dentro pra fora. Sem palavra alguma. Sem remédio. Sem chance.
Aos 16 já era bem grandinha (e entendida de coisas que era melhor não entender) pra ser perigosa. Não aos outros.
Quando a carga se tornou insuportável de verdade não relutou em fazer o que precisava fazer. Não teve discussão! Não teve "e se"! Fez e pronto. Ponto. Ponto final. Tudo se foi."








See ya, kids.

2 comentários:

Matheus Oliveira disse...

Confesso que pela primeira vez não sei o que comentar.

Lido! XD

Carla Jemima disse...

Idem!